Listas

Essa semana passou aquela corrente de instagram de coisas aleatórias que a gente gosta e não gosta. Eu poderia ter incluído “listas” na de coisas que eu gosto, porque uso sempre. Seja pra arrumar a mala ou pra organizar a semana, sou bastante adepta. Me perguntei de onde veio isso e não sei responder. Desde criança eu já gostava de fazer listas: de brinquedos que queria, dos programas do final de semana. Gostava de escrever diário, e este também é um hábito que mantenho até hoje. Talvez, só talvez, eu goste de escrever.

Também ficou de fora outra coisa que eu adoro que são itens de papelaria. Quer me ver desorientada e querendo ter um surto consumista é me soltar numa loja dessas. Papeizinhos coloridos, canetas de todo jeito, lápis de cor, agendas, caderninhos, clips. Absolutamente tudo me interessa, mesmo que eu nem saiba pra que serve ou que não tenha utilidade pra mim. A nova mania são canetas marca texto em tons pasteis. Escolho usar nos livros uma dupla que combine com a capa.

Falando em marcar os livros, esta é uma paixão recente: até uns 5 anos atrás, eu nunca tinha riscado, grifado, marcado um livro. Hábito esse adquirido desde criança, porque usava muitos livros de bibliotecas e não era nada agradável quando pegava um todo riscado pelos colegas. Fiz duas graduações sem riscar um único livro, usava post-it e um caderninho de anotações. Haja sol em Virgem pra dar conta de estudar depois!

E, falando em outra coisa que aprendi a gostar recentemente, mais exatamente na pandemia, comecei a estudar astrologia. Pra quê mais uma coisa, mulher, tá faltando serviço? Não... mas nem tudo que a gente faz é pra gerar dinheiro, esse estudo dos astros é só pra mim mesma. No máximo, pra brincar com amigos sobre as características mais conhecidas dos signos. Talvez o sol, a lua e mercúrio todos em Virgem sejam a explicação mais plausível desse gosto por estudar, escrever, ter coisas de papelaria e fazer listas. Será?

Me conte: o que está na sua lista de coisas que você gosta?

Saudade

O dia de ontem me lembrou: 10 anos. Pode ser um tempo longo pra pessoas ou coisas que desejamos esquecer. Ou um tempo longo para pessoas e coisas que gostaríamos de ter por perto. Ou um tempo mais longo ainda de quem ou daquilo que a gente tem saudades. Esta data marca os 10 anos de 3 saudades gigantes pra mim.

A primeira, da prima querida que se foi de forma abrupta, inesperada e sem sentido. Nesses 10 anos, me perguntei mil vezes o sentido dessa ausência e jamais encontrei uma resposta que seja. A vida pela frente, a pouca idade, a chegada do filho. Tudo junto, ao mesmo tempo, o buraco que ficou na família, em cada um de nós, em mim. Foi meu primeiro contato com a ausência de sentido da morte. Ela vem e não existe uma explicação. E cada um tem que se haver com isso.

A segunda, será ano que vem. 2014, o ano que fui do céu ao inferno num espaço de 7 meses. Engravidei após anos de um tratamento sofrido, passei meses em repouso, tive um mês de paz e meu bebê se foi. Um poço sem fundo, um ano do qual não me lembro nem como terminou, nem como cheguei até 2015. Me lembro de flashes, da dor, da escuridão, de chorar sem parar. A saudade do que não foi, daquele que veio e não ficou, de sonhos interrompidos e abandonados. A saudade de quem eu era até ali.

A terceira será em 2015. Após os 2 anos da partida da prima, às vésperas do 1 ano da partida do filho, meu melhor amigo, meu irmão, se foi. Jovem, a vida pela frente, um acidente estúpido de avião. Eu não sabia se chorava pela falta dele, pelo susto, pelo 1 ano do filho morto, por mim. Desse dia me lembro com uma clareza absurda. A falta que ele me faz é imensa e diária.

Eu chamo esses 3 anos da minha vida de “o período dos tsunamis”. Minha sensação era semelhante à quando entramos no mar e somos derrubados por uma onda imensa, arrastados até a areia e, quando conseguimos tirar a cabeça da água, vem a próxima onda e nos puxa pro fundo. Você já está engolindo água, fica de pé e vem a próxima. Se não vier alguém te ajudar, você vai se afogar ali. Por sorte, eu tive muitas mãos estendidas pra me resgatar. Sou infinitamente grata aos gestos grandes e pequenos que vieram em momentos duros, aos silêncios cúmplices, aos ombros que chorei, às pessoas práticas que resolveram banalidades quando eu não dava conta de pentear meus cabelos. À algumas pessoas eu agradeci pessoalmente, outras nem sabem o quanto foram importantes e não tive a oportunidade de dizer.

Esse é daqueles textos que talvez eu não mostre nunca pra ninguém, porque não gosto de focar na tristeza. Aliás, quando sentei aqui pra escrever, eu queria dizer de como a saudade se transforma o longo de 10 anos. Como ela ganha tons mais amenos, como os momentos vividos juntos e a risada das pessoas queridas passam a morar na gente. Como me divirto imaginando as frases debochadas do meu amigo em determinadas situações e quase enxergo ele ali e isso aquece meu coração. Talvez eu tenha sido tomada pela sensação de fechamento de ciclo que 10 anos evoca e precisei falar da tristeza, que quase não dividi com ninguém. Uma das coisas mais difíceis num processo de luto é encontrar quem queira nos ouvir falar dos mortos. Até porque, nessa situação específica, meu círculo mais próximo estava vivendo o luto também, cada um tentando atravessar os tsunamis do jeito que deu. Talvez seja a hora de falar da tristeza pra ela, finalmente, ir embora em paz.

Nessa temporada de fechamentos que começou ontem, eu espero somente que a saudade venha cada vez mais parecida com um quadro de Monet, em tons suaves, e menos como um grito do Munch. Que ela more aqui dentro pisando suave, sem bater panelas de manhã cedo. E que eu possa falar dela com a leveza que eu sinto a presença desses 3 comigo todos os dias.

Espelho de aumento com luzinha


Fui fazer uma arrumação aqui e percebi que tenho 3 espelhos de aumento: um que aumenta 2 vezes, outro que aumenta 4 vezes e um pequeno que aumenta 10x. O intermediário tem até uma luzinha pra facilitar o uso! É inevitável sentar ali e, ao se olhar no espelho que aumenta, procurar defeitos: sobrancelha torta, olheiras enormes, machas na pele, cravos e espinhas, pelinhos perto da boca, cabelos brancos, rugas e linhas de expressão... quantos defeitos cabem em um rosto? Pior, no nosso rosto?

Daí eu me levanto, passo um monte de produtos – que já estavam comprados, diga-se – penso em marcar dermato, endócrino e esteticista, porque, afinal, estou horrorosa e preciso fazer algo a respeito. Inventam tanta coisa, deve ter um jeito de “consertar” meu rosto. Recebo uma mensagem, marco de encontrar uma amiga no almoço, me arrumo, e, ao chegar, vejo minha linda amiga e ela me diz: “nossa, você está tão bonita!” – e eu escolho acreditar, porque ela também está lindíssima e temos tanto a conversar, tanto papo pra colocar em dia!

Almoçamos, conversamos, tomamos café, contamos dos projetos, os que estão dando certo e os que não vão tão bem, rimos, nos emocionamos, tomamos mais um café, agora com um docinho, lembramos que temos que trabalhar e vamos embora, já combinando o próximo encontro. Volto feliz pra casa, olho pro espelho e penso: “ela tem razão, estou mesmo bonita!”.

Dia seguinte, estamos de novo, frente a frente, o espelho e eu. As manchas, as olheiras, tudo que ele me mostrou na véspera está igual. Volto pro skincare. Enquanto espalho os cremes e o protetor solar, me pergunto: por que não olhar pra mim com o mesmo carinho que olho pras minhas amigas? Olhando pra elas, eu não vejo manchas, rugas, linhas de expressão, vejo mulheres maravilhosas, cada uma a seu modo, do seu jeito, encarando a vida de formas tão diferentes, tão únicas, mas tão belas! Será que elas sabem que eu as vejo assim? E se elas estiverem agora, como eu, de frente pro espelho de aumento com luzinha, procurando defeitos que não existem nos seus rostos lindos? Será que elas são tão generosas com elas mesmas como são comigo? Será que eu consigo ser tão generosa comigo quanto sou com elas?

Engavetei o espelho que aumenta 10 vezes. E prometi pra mim mesma que o que aumenta e tem luzinha só vou usar pra colocar glitter e fazer delineado nas maquiagens.


eu no espelho de aumento com luzinha, em uma desnecesselfie de 2019

Na imagem, eu no espelho de aumento com luzinha, numa desnecesselfie de 2019, quando estava loira.

Atividade física: fã ou hater?

Hoje recomecei o pilates. Tava me sentindo encurtada, enferrujada mesmo. Como algumas amigas sabem, eu já gostei de atividade física, até porque, na época, eu não “precisava”. Aulas de dança, musculação, caminhadas, bicicleta, trekking (sim, eu ia caminhar no mato, gente), isso tudo era diversão. Eu fazia sem sofrer, achava bom, era programação de final de semana, organizava uma viagem curta por mês pra ir caminhar no mato. Falando assim, parece outra vida. Vai ver que era mesmo.

De pouco antes dos 40 pra cá, além de caber na agenda de trabalho, a atividade física se tornou uma necessidade, entrou na lista das obrigações. E aí, lascou. Eu detesto ser obrigada a fazer qualquer coisa. Eu faço, mas faço na força do ódio. Pra facilitar o entendimento, vou usar uma imagem: imagina eu aqui, vivendo meu dia, em cores, tocando Vivaldi ao fundo, cuidando dos cães, das plantas, trabalhando, almoçando, um dia normal e feliz. Eu entrando no carro, dirigindo, e as cores sumindo… chego na academia de musculação já em preto e branco, em alto contraste, tocando um rock bem pesado, um solo de guitarra estridente. Daí acaba, eu entro no carro, e as cores e o Vivaldi vão voltando lentamente, até que eu chego em casa. É basicamente assim que minha relação com o exercício físico está.

Eu amava o ballet clássico! Ia super animada, colegas ótimas, professora ótima. Porém, uma alteração dos horários de aula tornou inviável continuar. Passei pra academia com aulas coletivas e musculação. Adorava a aula de step, mas o resto, que preguiça! Veio pandemia, fiz yoga em casa e ballet clássico em casa por 2 anos. Não aguento mais ouvir a voz da professora no app, ela fala “respira” e eu tenho vontade de mandar a criatura pra aquele lugar. Fiquei 6 meses me enganando e indo às aulas de step sem muita regularidade, até vencer o contrato. E agora, irei novamente pro pilates. Pelo menos, eu não detesto, já é alguma vantagem. Gostei do studio que escolhi, apesar de ter adorado uma professora de outro lugar, cujo acesso não era simples e não tinha mais horário compatível. Antes feito do que perfeito: é o novo lema pra encarar os exercícios.

Eu pretendo ser uma velhinha ativa, que faz suas coisinhas, viaja, e que terá cachorros. Uma velhinha que vai pro carnaval, que frequenta baile de dança de salão. Pra ser essa velhinha sacudida, eu preciso ser uma mulher de meia idade ativa e sem ferrugem. É pra isso que eu vou me desafiar novamente e encarar a rotina de atividade física. Nem fã, nem hater. Só uma pessoa que não mobiliza grandes emoções com isso.

E você, é fã ou hater de atividade física?

Isso é assim mesmo.

Essa frase me foi dita tantas vezes que demorou um tempo pra que eu fosse capaz de inserir um ponto de interrogação no final. Acredito que ninguém me disse isso por maldade, quem passou dos 40 foi criada por uma geração que também ouviu isso inúmeras vezes e precisou se amoldar ao que era esperado do ser mulher. Só que esse se amoldar deixa suas marcas.

Das cólicas menstruais dolorosas durante toda a vida adulta aos calores insuportáveis da menopausa, cada desconforto inerente ao corpo feminino é respondido com “isso é assim mesmo”. Inclusive por profissionais de saúde que deveriam estar mais atentos à queixa das pacientes que estão à sua frente em uma consulta. As mães, avós, tias e amigas nos consolam, ao ouvir nossas reclamações, com a mesma frase, “isso é assim mesmo, querida”, num tom carinhoso e compreensivo, e nos contam de seus muitos infortúnios com as questões do corpo que menstrua. Daí que a gente atravessa o período reprodutivo sendo lembrada disso e acreditando que ser mulher é sofrer. E que isso é assim mesmo.

Mas… e se não for? E se a gente não precisasse sofrer de dor todo mês? E se a gente pudesse não sentir cada um dos mais de 60 sintomas do climatério/menopausa durante os longos 5 ou 6 anos iniciais, e, mais ainda, e se a gente não precisasse chegar aos 80 sentindo todos os desconfortos que decorrem do declínio hormonal? Se não der pra impedir todos, seria possível, pelo menos, atenuar alguns que nos afligem mais?

Quando comecei a questionar isso em consultas, um novo mundo se abriu: troquei de profissionais inúmeras vezes até chegar aos que me acompanham atualmente, e, afirmo: eu não preciso sentir dor, desconforto e incômodo todos os dias. Estar desanimada, cansada, insone, não é o meu normal. Um mau humor constante, irritação e calor a qualquer momento, não é o meu normal. Fazer dietas restritivas e não perder nem 100g não é o meu normal. Precisar tomar dipirona dia sim e outro também pra dor de cabeça, também não é o meu normal.

A gente precisa olhar pra gente mesma e entender o que está acontecendo conosco, quais mudanças estão se processando no nosso corpo e no nosso jeito de viver. E questionar, sempre, se estamos satisfeitas assim. Tenho amigas que atravessaram o climatério sem sintomas e estão muito bem, o que é ótimo. Tenho amigas que estão sofrendo há anos, tentando encontrar profissionais que escutem suas queixas sem responder que “isso é assim mesmo”. Se você está nesse segundo grupo, minha dica é responder a esta afirmação com o famoso: “Será?”

Disclaimer: Lembrando que estou falando da MINHA experiência, e que nem todo profissional de saúde, porque tenho também experiências bem positivas pra contar, mas que serão assunto em outro momento. Não estou aqui individualizando a conduta de ninguém, estou contando coisas que vivi e que não desmerecem nenhuma categoria profissional, mas que aconteceram comigo, e ficam aqui de alerta para quem está passando por situações parecidas.

Um teste

Entrei nos 40 faz quase 6 anos. Dentre as amigas e conhecidas, umas entraram um pouco antes, outras um pouco depois. E, em todas as conversas de lá pra cá, há um elemento constante: ninguém te avisa ou te prepara para as mudanças que se impõem. Somos sempre surpreendidas com as alterações no corpo, no humor, nas relações. E como cada uma é única, não há uma “regra” ou uma ordem lógica nessas mudanças, algumas são suaves, outras nem tanto.

Esta semana, especialmente, conversei com algumas amigas sobre o climatério e a menopausa, e a conclusão é de que há alguns perfis de rede social sobre isso, mas todos com um interesse comercial, seja na venda de produtos, ou de serviços. Sabemos que ao passar dos 40 somos um mercado consumidor bastante visado – e bombardeado de propaganda por todos os lados.

Em contrapartida, falta um espaço pra gente só conversar, só trocar experiências e falar da gente, compartilhar nossas dores e delícias da meia-idade. Sem monetizar. Sem focar em vender uma solução. Só contar como estamos atravessando esta fase da vida. Uma mesa de café com amigas trocando informações.

Resolvi criar este blog, algo meio fora de moda em tempos de redes sociais, mas bem familiar pra quem chegou na internet quando isso aqui era tudo mato. Um teste para mim, que gosto mais de escrever do que de gravar vídeo com o meu rosto, e também pra saber se tem mais mulheres que preferem este formato pra falar sobre a vida. Um lugar pra gente falar sobre a meia idade e tudo que nos interessa nesse momento.

Na pior das hipóteses, vou ficar aqui falando sozinha, escrevendo pra mim mesma, o que não é de todo ruim, porque escrever organiza meus pensamentos. Em este teste dando certo, encontrarei amigas antigas e novas pra falar da vida. Vamos?

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