Essa frase me foi dita tantas vezes que demorou um tempo pra que eu fosse capaz de inserir um ponto de interrogação no final. Acredito que ninguém me disse isso por maldade, quem passou dos 40 foi criada por uma geração que também ouviu isso inúmeras vezes e precisou se amoldar ao que era esperado do ser mulher. Só que esse se amoldar deixa suas marcas.
Das cólicas menstruais dolorosas durante toda a vida adulta aos calores insuportáveis da menopausa, cada desconforto inerente ao corpo feminino é respondido com “isso é assim mesmo”. Inclusive por profissionais de saúde que deveriam estar mais atentos à queixa das pacientes que estão à sua frente em uma consulta. As mães, avós, tias e amigas nos consolam, ao ouvir nossas reclamações, com a mesma frase, “isso é assim mesmo, querida”, num tom carinhoso e compreensivo, e nos contam de seus muitos infortúnios com as questões do corpo que menstrua. Daí que a gente atravessa o período reprodutivo sendo lembrada disso e acreditando que ser mulher é sofrer. E que isso é assim mesmo.
Mas… e se não for? E se a gente não precisasse sofrer de dor todo mês? E se a gente pudesse não sentir cada um dos mais de 60 sintomas do climatério/menopausa durante os longos 5 ou 6 anos iniciais, e, mais ainda, e se a gente não precisasse chegar aos 80 sentindo todos os desconfortos que decorrem do declínio hormonal? Se não der pra impedir todos, seria possível, pelo menos, atenuar alguns que nos afligem mais?
Quando comecei a questionar isso em consultas, um novo mundo se abriu: troquei de profissionais inúmeras vezes até chegar aos que me acompanham atualmente, e, afirmo: eu não preciso sentir dor, desconforto e incômodo todos os dias. Estar desanimada, cansada, insone, não é o meu normal. Um mau humor constante, irritação e calor a qualquer momento, não é o meu normal. Fazer dietas restritivas e não perder nem 100g não é o meu normal. Precisar tomar dipirona dia sim e outro também pra dor de cabeça, também não é o meu normal.
A gente precisa olhar pra gente mesma e entender o que está acontecendo conosco, quais mudanças estão se processando no nosso corpo e no nosso jeito de viver. E questionar, sempre, se estamos satisfeitas assim. Tenho amigas que atravessaram o climatério sem sintomas e estão muito bem, o que é ótimo. Tenho amigas que estão sofrendo há anos, tentando encontrar profissionais que escutem suas queixas sem responder que “isso é assim mesmo”. Se você está nesse segundo grupo, minha dica é responder a esta afirmação com o famoso: “Será?”
Disclaimer: Lembrando que estou falando da MINHA experiência, e que nem todo profissional de saúde, porque tenho também experiências bem positivas pra contar, mas que serão assunto em outro momento. Não estou aqui individualizando a conduta de ninguém, estou contando coisas que vivi e que não desmerecem nenhuma categoria profissional, mas que aconteceram comigo, e ficam aqui de alerta para quem está passando por situações parecidas.
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